quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Perdas

"Tudo quanto amamos ou perdemos — coisas, seres, significações — nos roça a pele e assim nos chega à alma, e o episódio não é, em Deus, mais que a brisa que me não trouxe nada salvo o alívio suposto, o momento propício e o poder perder tudo esplendidamente."

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

mil pedaços, Caio Fernando Abreu

"Eu preciso muito muito de você eu quero muito muito você aqui de vez em quando nem que seja muito de vez em quando você nem precisa trazer maçãs nem perguntar se estou melhor você não precisa trazer nada só você mesmo você nem precisa dizer alguma coisa no telefone basta ligar e eu fico ouvindo o seu silêncio juro como não peço mais que o seu silêncio do outro lado da linha ou do outro lado da porta ou do outro lado do muro.Mas eu preciso muito muito de você."

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Frozen




Sinto um frio imenso.
Um frio que não é daqui.
Não tem nada a ver com a temperatura.

sábado, 20 de novembro de 2010

You, darkness

You, darkness, that I come from
I love you more than all the fires
that fence in the world,
for the fire makes a circle of light for everyone
and then no one outside learns of you.

But the darkness pulls in everything-
shapes and fires, animals and myself,
how easily it gathers them! -
powers and people-

and it is possible a great presence is moving near me.

I have faith in nights.

Rainer Maria Rilke

You Who Never Arrived

You who never arrived
in my arms, Beloved, who were lost
from the start,
I don't even know what songs
would please you. I have given up trying
to recognize you in the surging wave of
the next moment. All the immense
images in me -- the far-off, deeply-felt
landscape, cities, towers, and bridges, and
unsuspected turns in the path,
and those powerful lands that were once
pulsing with the life of the gods--
all rise within me to mean
you, who forever elude me.

You, Beloved, who are all
the gardens I have ever gazed at,
longing. An open window
in a country house-- , and you almost
stepped out, pensive, to meet me.
Streets that I chanced upon,--
you had just walked down them and vanished.
And sometimes, in a shop, the mirrors
were still dizzy with your presence and,
startled, gave back my too-sudden image.
Who knows? Perhaps the same
bird echoed through both of us
yesterday, separate, in the evening...

Rainer Maria Rilke

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

presença

Sim. Aquele homem que eu nunca vi antes, de repente, parou bem na minha frente e me olhou nos olhos como se eu pertencesse a ele. Olhei para os lados, tentei disfarçar, mas ele permanecia ali, não tinha pressa, apenas tomado uma decisão. Mesmo fingindo que não o conhecia, sua presença me incomodava de um jeito difícil de explicar. Desviei o olhar. Esperei que ele fosse embora.
Ele nunca foi.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O livro do desassossego

[63]
Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo; por vezes, por certas portas, entrevemos o que talvez não seja senão cenário. Todo o mundo é confuso, como vozes na noite.
Estas páginas, em que registro com uma clareza que dura para elas, agora mesmo as reli e me interrogo.
Que é isto, e para que é isto? Quem sou quando sinto? Que coisa morro quando sou?
Como alguém que, de muito alto, tente distinguir as vidas do vale, eu assim mesmo me contemplo de um cimo, e sou, com tudo, uma paisagem indistinta e confusa.
É nestas horas de um abismo na alma que o mais pequeno pormenor me oprime como uma carta de
adeus. Sinto-me constantemente numa véspera de despertar, sofro-me o invólucro de mim mesmo, num abafamento de conclusões. De bom grado gritaria se a minha voz chegasse a qualquer parte. Mas há um grande sono comigo, e desloca-se de umas sensações para outras como uma sucessão de nuvens, das que deixam de diversas cores de sol e verde a relva meio ensombrada dos campos prolongados.
Sou como alguém que procura ao acaso, não sabendo onde foi oculto o objeto que lhe não disseram o que é. Jogamos às escondidas com ninguém.
Há, algures, um subterfúgio transcendente, uma divindade fluida e só ouvida.
Releio, sim, estas páginas que representam horas pobres, pequenos sossegos ou ilusões, grandes
esperanças desviadas para a paisagem, mágoas como quartos onde se não entra, certas vozes, um
grande cansaço, o evangelho por escrever.
Cada um tem a sua vaidade, e a vaidade de cada um é o seu esquecimento de que há outros com alma
igual. A minha vaidade são algumas páginas, uns trechos, certas dúvidas...
Releio? Menti! Não ouso reler. Não posso reler. De que me serve reler? O que está ali é outro. Já não
compreendo nada...

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

.

Uma drástica medida a se tomar é continuar amando, viver é consequência.

parece que foi ontem

eu vou acontecendo aos poucos...
prefiro quando consigo me demorar
e me perco pensando,
me perco sentindo.
tão livre o sentir é,
que as vezes se torna insuportável.
o sentir sem medida,
sem controle,
sem tempo de acabar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

dreams

Não era ela que o via todos os dias em seus sonhos. Era ele quem não conseguia abandoná-la um só instante. Tinha escolhido um lugar incomum para guardá-la. E desde então, era ali que ela permanecia.

sábado, 21 de agosto de 2010

Rainer Maria Rilke

Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Baloons






















O ar etéreo sustentava os pensamentos.
Se encheu de felicidade em conter,
mesmo que por um breve instante,
tanta delicadeza.
Queria que aquele momento fosse eterno.
E por um segundo conseguiu.

domingo, 8 de agosto de 2010

Incomplete

Somos incompletos. E vamos encontrando partes de nós espalhadas por aí. É como se coisas muito essencias, que nos pertencem de um jeito tão genuíno que parecem ter sido arrancadas de nossa alma, estivessem fora de nós por alguma razão desconhecida. Podem ser músicas, textos, lugares e, principalmente, pessoas. E vamos tentando recolher nossos pertences ao longo da vida. Com certeza é fácil comprar o cd ou o livro, visitar lugares, mas queremos também recolher as pessoas, afinal elas nos pertecem. Mas não se preocupe, você não terá dificuldade nenhuma em reaver o que sempre foi seu, porque esses sempre estiveram a sua espera.

domingo, 6 de junho de 2010

sinto

Um sentimento pode te ocupar a vida inteira.
Não é algo que atrapalhe.
Vive ali desde que sua história nesse mundo começou.
Acompanha teu aprendizado.
Escolhas diárias.
Caminhos sendo percorridos, indo em alguma direção.
Teu sentimento segue ali, inabalável.
É companhia certa, nas horas em que tudo pode faltar.
Apenas está. É.
Não tem desejos.
Não quer fazer nenhum sentido.
É anterior.
Uma delícia apenas de sentir.

domingo, 30 de maio de 2010

Glastonbury Tor





Não dá para se esquecer de lugares onde o céu está totalmente conectado.

Apollo e Daphne

Clocks

Quem dera fosse pouco o que estava a sua espera.
Apesar de sentir tamanha grandeza,
sentia o adiamento.
Lembrou quando chutou a areia da praia certa vez a noite.
Partículas brilhantes tocaram seus pés, avisando.
Tão familiar pressentimento.
Deveria calar.
Fantasiava aquela altura.
O verdadeiro viria ao seu encontro.
Quando estivesse pronto.
A hora derradeira.
O relógio parado para sempre.

Fadas estão pelo caminho

not enough time

And I was lost for words
In your arms
Attempting to make sense
Of my aching heart
If I could just be
Everything and everyone to you
This life would just be so easy

Not enough time for all
That I want for you
Not enough time for every kiss
And every touch and all the nights
I wanna be beside you

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Perséfone

O Rapto de Proserpina é uma escultura de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680), considerado um dos maiores artistas do século XVII, tendo seu trabalho quase todo centrado na cidade de Roma.

O mito romano do rapto de Proserpina por Plutão é uma lenda que também aparece na cultura grega, onde Plutão se chama Hades e Proserpina é Perséfone, que encantou o obscuro deus com sua beleza, filha da deusa das colheitas Deméter. Ela é então raptada e levada para as profundezas da Terra, deixando sua mãe enfurecida. O rapto fez com que Deméter castigasse o mundo, arrasando com as plantações, entregando o mundo ao caos e à fome. Conta-se que Perséfone não podia comer nada que lhe fosse oferecido ou ela nunca mais voltaria para casa. Enquanto Zeus tentava convencer Plutão a liberar a moça, Perséfone comeu algumas sementes de romã, selando o seu destino. Assim, ela se viu obrigada a casar com Plutão, o que deixou Deméter ainda mais furiosa.

Zeus teria então interferido. Perséfone passaria metade do ano com o marido e a outra metade com a mãe. Dessa maneira, Deméter aceitou e assim os gregos explicavam as épocas do ano. Quando era verão e primavera, sua filha estava ao seu lado. No inverno e no outono, épocas frias, sem colheitas, Perséfone estava com o marido.

Detalhe do Rapto de Proserpina pelo Deus Plutão

Lindo!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Onírico - (trecho) Caio Fernando Abreu

Veio num sonho, certa noite. Ela o amava. Ele a amava também. E ainda que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo. Dormiam juntos, no sonho, porque era bom para um e para outro estarem assim juntos, naquele outro espaço. Não vinha nada de fora, nem ninguém. Deitada nua no ombro também nu dele, não havia fatos. Dormiam juntos, apenas. Isso era limpo e nítido no sonho que ela sonhou aquela noite.
Deitada no ombro dele, ela via seu rosto muito próximo. Esse era o sonho, nada mais. E isso, mais tarde saberia, era o único fato do sonho inteiro: via o rosto dele muito próximo. Como um astronauta prestes a desembarcar veria a face da lua, mal reconhecendo o Mar da Serenidade perdido em poeira cinza, assim ela o via naquela proximidade excessiva, quase inumana de tão próxima. Fechasse os olhos — mas não os fecharia, pois já estava dormindo — guardaria contra as pálpebras cerradas um por um dos traços dele. Crateras miúdas com negros fios de barba despontando duros de dentro delas, molhadas gretas polpudas além das quais brilhava o branco duro dos dentes.
Coisas assim, ela via. E de olhos abertos, embora fechados, pois sonhava, protegia-o, protegiam- se no meio da noite. Tão simples, tão claro. E de alguma forma inequívoca, para sempre. Talvez ele tivesse passado um dos braços em tomo da cintura dela, quem sabe ela houvesse deitado uma das mãos sobre o ombro dele, erguendo os dedos até que tocassem no lóbulo de sua orelha. Em todos os dias que se seguiram à noite daquele sonho, e foram muitos, honestamente não saberia localizar outros detalhes. Pois enquanto dormia, naquela noite, tudo era só e apenasmente isso: dormiam juntos.
No centro da noite, no meio do sonho, no outro espaço.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

E

Eu não estou tão sem tempo para escrever aqui. É pura falta de inspiração mesmo. Flashes de uma história que eu preciso alinhavar estão embaralhados em mim. Mas me sinto tão vazia, que nunca me parece a ocasião. Mas não é um vazio ruim, apenas contemplativo. Acesso uma conexão diferente que resiste em se mostrar através de mim, mas que em breve irá.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010