segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

my rilkean heart

You who never arrived
in my arms, Beloved, who were lost
from the start,
I don't even know what songs
would please you. I have given up trying
to recognize you in the surging wave of the next
moment. All the immense
images in me-- the far-off, deeply-felt landscape,
cities, towers, and bridges, and unsuspected
turns in the path,
and those powerful lands that were once
pulsing with the life of the gods-
all rise within me to mean
you, who forever elude me.

You, Beloved, who are all
the gardens I have ever gazed at,
longing. An open window
in a country house--, and you almost
stepped out, pensive, to meet me.
Streets that I chanced upon,--
you had just walked down them and vanished.
And sometimes, in a shop, the mirrors
were still dizzy with your presence and, startled,
gave back my too-sudden image. Who knows?
perhaps the same bird echoed through both of us
yesterday, seperate, in the evening...


Rainer Maria Rilke

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Foto do meu pai

A imagem ficou resgistrada ali. Despretenciosa. Meu pai segurando meu sobrinho. Os dois sorriem para a câmera. A foto deve ter uns 12 anos e pode ter sido tirada num domingo qualquer.  Um registro simples, sem nenhuma segunda intenção. Mas aquela foto me atrai e me doí inteira, na mesma proporção. Me faz tremer de saudades. Uma imagem que está guardada na minha alma, e fará parte daqueles meus prováveis minutos finais. Um segundo que fez a vida ter todo o sentido. Estou aprendendo a olhar para ela, aprendendo com o que vejo e sinto.  E quanto mais eu amo, mais medo tenho de olhar. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Clarice... "A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe."


Por enquanto estou inventando a tua presença, como um dia também não saberei me arriscar a morrer sozinha, morrer é do maior risco, não saberei passar para a morte e pôr o primeiro pé na primeira ausência de mim - também nessa hora última e tão primeira inventarei a tua presença desconhecida e contigo começarei a morrer até poder aprender sozinha a não existir, e então eu te libertarei. Por enquanto eu te prendo, e tua vida desconhecida e quente está sendo a minha única íntima organização, eu que sem a tua mão me sentiria agora solta no tamanho enorme que descobri. No tamanho da verdade?
Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei e te perderei? mas se eu não falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia. A verdade não faz sentido, a grandeza do mundo me encolhe. Aquilo que
provavelmente pedi e finalmente tive, veio, no entanto me deixar carente como uma criança que anda sozinha pela terra. Tão carente que só o amor de todo o universo por mim poderia me consolar e me cumular, só um tal amor que a própria célula-ovo das coisas vibrasse com o que estou chamando de um amor. Daquilo a que na verdade apenas chamo mas sem saber-lhe o nome. Terá sido o amor o que vi? Mas que amor é esse tão cego como o de uma célula-ovo? foi isso? aquele horror, isso era amor? amor tão neutro que - não, não quero ainda me falar, falar agora seria precipitar um sentido como quem depressa se imobiliza na segurança paralisadora de uma terceira perna. Ou estarei apenas adiando o começar a falar? por que não digo nada e apenas ganho tempo? Por medo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e não soubesse em que país ela vale.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Esse corpo que tu carregas para todos os lugares e pra lugar nenhum. Essa saudade que tua alma suspeita é o presságio daquilo que tu não és. Por mais que tente fugir ou sublimar, aquela presença resiste, atenta ao teu olhar, a única que poderia te reconhecer no meio da multidão.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A caveira que morava na porta do ármario do quarto.


Nina: - Mãe, ô mãe, manhêêêêêêê, tô com medo!
Mãe: - Que foi filha, tá gritando feito louca...
Nina: - É que tem um caveira ali. Ai, ai, ai.
Mãe: - Ah, filha mas não é uma caveira, é a madeira da porta do armário que é cheia de ranhuras.... Você tá imaginando coisas....
Nina: - Mas mãe, olha lá, ela tá olhando pra mim, você não tá vendo?
Mãe: - Tá bom Nina, eu vou dormir aqui com você tá? A caveira vai embora... então vamos fechando os olhinhos... relaxando....

Meia hora depois.

Nina: - Dona caveira, eu não gosto de você, não quero mais você no meu quarto. Eu vou fechar os olhos e você vai sumir. Amanhã você não estará mais aí. Não adianta me encarar. Ah, Dona caveira vai embora daí, por favor???


Meia hora depois.

Nina: - Dona caveira? Ei, cade você?


Adeus


Eu estava pensando se a gente não deveria estar mais preparados para dizer adeus, já que isso acontece a todo momento em nossas vidas. Estamos sempre nos despedindo de alguém. Apesar da primeira vez ser sempre a mais marcante, eu ando reparando nas últimas vezes. Sim, porque diferente da primeira, você nunca acha que pode ser a última e nem dá tanta importância, mas acredite, pode ser. E então, quando nos damos conta disso, o chão some. Como assim, aquele foi o último telefonema que meu pai me deu. E aquelas tardes de sábado que eu costumava encontrar as amigas mais próximas. Como saber que “aquela” tarde com todas era a última, já que uma das meninas iria morar fora? Estamos diante de situações assim o tempo todo. Passamos anos trabalhando num lugar onde poderíamos ir de olhos fechados ao banheiro e num belo dia, aquilo já é passado. Acordamos em lugares diferentes, nos sentindo idem. Mas não importa o que aconteça fora de nós, temos a incrível capacidade de “reter” quem amamos, num lugarzinho muito especial, apropriadamente aquecido, e ali é possível entrar em contato com quem realmente fica em nossas vidas, não importando que aos olhos dos outros tenha parecido que estavámos nos despedimos de alguém.

domingo, 29 de maio de 2011

Material

Sobre as coisas que chamamos de nossas, quando na verdade são elas que nos "possuem".  Por um tempo pelo menos. O tempo que a gente durar. Pertencemos a tudo aquilo a que nos apegamos, mas isso vai sobreviver a nossa passagem e logo estará nas mãos de outro. Pura ilusão. Ainda assim acreditamos que somos donos legítimos. Tenho a impressão que o sorriso da Monalisa esconde um pouco isso, ela ri secretamente de todo mundo que um dia achou que a possuiu.


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Caio, again

"Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (...)então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida..."

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Existe uma certa desorientação em sentir o estado da impermanência. Porque coisa bem diferente de teorizar, é passar pela experiência. É te machucar a carne, sentindo uma dor absurda te atravessar a pele, te atingindo em cheio.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O tempo é amigo

















Sabe aquele amigo que nunca desiste de você?
Então, o tempo é um amigo assim.
Não importa se você mudar de país,
encontrar o amor da sua vida e esquecer de dar notícias
ou simplesmente resolver sumir.
Ele é paciente.
Incansável, vai esperar pelo instante em que você tenha a ilusão de que ele está ao seu alcance.
Apagando as lembranças.
Distorcendo aquela sensação do imediato.
Aquela clareza do agora, do presente.
Seja o bom presente.
Seja o mau presente.
O tempo age com imparcialidade
e segue, segue, segue...
tanto que as vezes parece nos ignorar...
o tempo faz com que a gente experimente ser humano.

domingo, 13 de março de 2011

Il ya longtemps que je t'aime

Última mensagem do meu Pai em 17.02.2011















A minha familia e amigos

A todos a quem eu amei e que me amaram também:
não chorem a minha ausência.
Não pensem que parti!
Revivam os bons momentos que vivemos
e verão que a própria lembrança é também uma presença!
Eu estou livre da matéria,
percorro agora o universo para ajudar todos os que amei!

Se se sentirem tristes, desconsolados,
pensem em mim,
lembrem-se de mim,
chamem por mim
e eu aí estarei para vos ajudar,
para vos consolar!
E...quando a vossa vez chegar
não chorem pelos que vão deixar
pois uma partida não será nunca um adeus
mas um "até breve"...
Eu estarei aqui para vos receber!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lhasa De Sela, explaining 'Soon this space will be too small'

Lhasa De Sela, explaining 'Soon this space will be too small'

'This is a story about my father, because my father is a very philosophical man and he always has an idea going ‘round and ‘round and around in his mind and each idea that he has, its orbit takes several years to go around.

And when he’s really gone all the way through, then he has a new idea

These days he has a new idea

His idea is that when we’re conceived we appear in our mother’s womb, like a little. Tiny. light. Suspended in immense space and, there’s no sound it’s completely dark, and time doesn’t seem to exist. It’s like an ocean of darkness…

And then, we’re growing and we keep growing and growing and as we grow… slowly we begin to feel things touch things and, touch the walls of our world that we’re in

And then we begin to hear sounds and feel shocks that come to us from the outside then as we get bigger and bigger the distance between ourselves and that other outside world becomes smaller and smaller

And this world that were inside that seems so huge in the beginning
And so infinitely welcoming, has become very uncomfortable

And we are obliged to be born. And my father says that birth is so chaotic and violent that he’s sure that at the moment of birth we’re all thinking ’This is it. This is death. This is the end of my life’

And then we’re born and it’s such a surprise because it’s just the beginning..

And in the beginning we’re very small and the world seems infinitely big and time seems infinitely long,

Then we keep on growing and we learn how to use our senses. We learn how to touch one more time the contours of the world that we’re in

And sometimes mixed in with the sounds and sensations of this world, we hear sounds and feel shocks that come from yet another world.

And that other world follows us our whole lives long, as if something is happening on the other side of a very, very thin wall

But we can forget about it for a long time, and then all of a sudden it comes again, and then at the end of our lives…
we’re obliged to die

And at that point, my father says that then we think we’re really smart, and we think- this time, we know for sure that this is death and that this is the end… because everybody knows that.

But my father thinks that, that’s not the end either…
It’s just the beginning of something else. '

Todo o amor que houver nesta e em todas as outras vidas.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Até o nunca mais é uma grande ilusão.

Meu corpo aprisionado nesse tempo e espaço.
Quer garantias de felicidade.
Encolhido como se voltasse ao ventre.
Inerte.
Paralisado.
Como se já tivesse cumprido sua missão.
Desolado com a espera do nunca.
Mas até o nunca vai chegar.
No momento em que a ilusão se desfizer.
Um instante de luz.
A iluminação pelo amor, que nos une.
Desde sempre.

Laozi

"There are many paths to enlightenment.

Be sure to take the one with a heart."

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Just an illusion


É a ligação com o divino em nós que em algum momento nos permite enxergar algumas ilusões a que somos submetidos diariamente. A maior de todas é a separação das pessoas que amamos profundamente. É impossível estar separado quando existe uma ligação de amor verdadeiro. E não importa o que aconteça, as pessoas estarão unidas para sempre. Não existe tempo, espaço ou qualquer outro fator que possa intervir com uma força tão poderosa quanto o amor.