segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Frio

Fazia muito frio aquela noite. A praça estava quase vazia por causa da chuva fininha que caía. Ele estava por ali, esperando, olhando para o nada. Quando resolveu ir embora, ela chegou. Parecia que tinha corrido muito para estar ali, tinha os cabelos molhados, um ar cansado e seu coração disparado, quase dava para ouvir. Trocaram olhares. Ficou aquele clima estranho, um tentando ler o que o outro estaria pensando naquele instante. Por fim, ela resolveu quebrar o silêncio.

Ela: - Fala você primeiro.
Ele: - Não. Não quero que o que eu vá dizer influencie a tua decisão.
Ela: - Por que? Acha que eu mudaria de idéia à essa altura?
Ele: - Sei que mudaria. Apenas sei e pronto.
Ela: - Então o que eu disser também pode mudar o que tem para me dizer… Já sei como resolver isso. Escrevemos agora, ao mesmo tempo, o que queremos dizer, um para o outro.
Ele: - Hum, parece bom isso.
Ela: - E se, depois disso, a gente achar que ainda tem o que conversar a gente se encontra aqui amanhã, nesse mesmo horário, que tal?
Ele: - Mas tanta coisa pode acontecer até amanhã.
Ela: - Ai, o que por exemplo?
Ele: - Eu estar aqui amanhã?
Ela: - É?
Ele: - Me entrega tua carta, por favor.
Ela (entregando a carta, meio irônica) : - Agora vai. Quero ler, talvez a gente se fale.
Ele (impaciente): - E você tem sempre que dramatizar as coisas, sei que vou ter que falar com você, não importa o que esteja escrito aqui. Mas acho melhor ir agora. Não entendo mesmo essa tua insegurança.

Eles não conseguiam se entender, cada um tinha sua perspectiva dos fatos. Achavam que sentiam a mesma coisa um pelo outro, mas isso parecia mais intuição. Talvez, por causa de limitações, tivessem achado que resolver as coisas dessa maneira, traria algumas certezas. Mas era apenas um jeito de adiar, porque certezas, os dois sabiam ter. Só não sabiam ainda se elas eram compatíveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário